10 de abril de 2011

O persona

Já mencionei, em algum dos meus outros blogs falecidos, que em 1935, Cecília Meireles marcou um encontro com Fernando Pessoa às 12h no café “A brasileira”, do bairro Chiado, em Lisboa. Esperou cerca de duas horas e, bolo consumado, voltou para o hotel. Chegando lá recebeu um exemplar autografado do livro “Mensagem”* e a seguinte justificativa de Pessoa: ele tinha lido o horóscopo pela manhã e concluiu que os dois não deveriam se encontrar.

Li essa história em alguma matéria de algum suplemento da Folha de São Paulo ou O Estadão... Eu fiquei me perguntando, sendo Cecília poeta tão admirada, (lembro Manoel Bandeira - “Cecília, és tão forte e tão frágil. Como a onda ao termo da luta. Mas a onda é água que afoga: Tu, não, és enxuta”) - por que Pessoa declinou? Jamais saberemos. Mas, o comportamento excêntrico me fez colecionar algumas curiosidades sua e dar-lhe um green card para nossa Paris Imaginária.



1. Pessoa quer dizer persona, máscara de atores romanos. “Máscara, personagem de ficção, nenhum: Pessoa”;
2. Há quatro dele: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Fernando Pessoa. Il est un autre!
3. Trocou uma tipografia pela faculdade de letras, inapetência genuína para a academia e também para os negócios (ele vai à falência);
4. Vive toda sua vida em domicílios incertos, ora com a mãe, ora com uma tia solteirona, ora com uma avó louca e etc.;
5. É um bebedor solitário, em tabernas e hospedarias;
6. Em 1916 projeta estabelecer-se como astrólogo, mas se vê envolvido numa trama urdida pela polícia contra o mago e satanista inglês E. A. Crowley-Aleister (de passagem por Lisboa em busca de adeptos para sua ordem místico-erótica);
7. Não se conhecem seus amores. “Casto, todas as suas paixões são imaginárias; melhor dizendo, seu grande vício é a imaginação”;
8. É um cosmopolita que prega o nacionalismo;
9. Investigador solene de coisas fúteis;
10. Humorista que nunca sorri;
11. Inventor de outros poetas e destruidor de si mesmo;
12. Para quem fingir é conhecer-se;
13. Misterioso que não cultiva o mistério;
14. Fantasma do meio-dia português;
15. “Pierre Hourcade, que o conheceu no fim de sua vida, escreve: “Nunca, ao despedir-me, atrevi-me a voltar o rosto; tinha medo de vê-lo desvanecer-se, dissolvido no ar”;
16. Deixou tantas coisas escritas que, 72 anos após sua morte, ainda não foi todo publicado.
17. Faz literatura de subúrbio;
18. Como todos os abúlicos apaixonados e imaginativos, pra não enlouquecer, todos os dias escreve alguma coisa;
19. Leitor de Milton, Shelley, Keats, Poe, Baudelaire e vários subpoetas portugueses;
20. Teve Almada Negreiros e Mario de Sá Carneiro como companheiros na aventura futurista;
* Sua última experiência literária.
** “O desconhecido de si mesmo – Fernando pessoa”; PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 2003.