11 de novembro de 2010

Cruz de Malta

Oliveira bebeu mais um mate. Tinha de cuidar da erva. Em Paris, custava quinhentos francos o quilo nas farmácias e tratava-se de uma erva perfeitamente asquerosa que a drogaria da estação Saint-Lazare vendia como vistosa qualificação de “mate sauvage cueilli par lês indiens”, diurética, antibiótica, e emoliente. Por sorte, um advogado de Rosário – que, a propósito, era seu irmão – tinha-lhe enviado cinco quilos de Cruz de Malta, mas já restava muito pouco. “Se a erva acabar, estou frito”, pensou oliveira. “O meu único diálogo verdadeiro é com esta bebida verde”. Estudava o comportamento extraordinário do mate, a respiração da erva fragrantemente levantada pela água e que, com a sucção, desce até pousar sobre si mesma, perdido já todo brilho e todo o perfume a não ser que um pouco de água a estimule de novo, autêntico pulmão argentino de reserva para as pessoas solitárias e tristes”.




Capítulo 19

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