15 de dezembro de 2010

Maga e seu voodoo contra Pola


- Já chega, já chega! Horácio nunca me perdoará, embora  não esteja apaixonado por ela. O caso é para rir: uma bonequinha de nada, feita com cera de vela de Natal, uma cera verde muito bonita, recordo perfeitamente...

Imagem: Ana Cláudia

26 de novembro de 2010

“...o sorriso continua sendo a melhor vitamina pra impulsionar as inteligências e os facões. Uma revolução que não salve a alegria por baixo ou por cima de todos os seus valores essenciais está destinada ao fracasso, à lenta paródia do que não chegou a ser; e que não se confunda a frivolidade, que não vai além das superfícies, com a alegria, essa conciliação e essa harmonia do homem livre com seu âmbito, sua sociedade, seu mundo”.
Júlio Cortázar, Papéis Inesperados. Circunstâncias.

 

25 de novembro de 2010

Dia 17 de outubro, dia de Nossa Senhora dos Amores



Nossa Senhora dos Amores, Anne “Ninon” de l'Enclos, também chamada Ninon de Lenclos ou Ninon de Lanclos, foi assim canonizada por Walpole, devido a sua vasta coleção de amantes. Dentre eles o Marquês de Villarceaux e íntimo do Rei Luís XIV, que, por sua vez, não dispensava os conselhos da cortesã. Outro grande amigo seu é Molière, para quem ela corrigiu, a pedido do próprio autor, a primeira versão da peça "Tartufo", estreiada em 1664. Até em idade avançada ela não saiu da ativa, colecionando aventuras amorosas por onde quer que passasse. Culta, grande amante das artes e sábia, alguns meses antes de sua morte, com quase 90 anos, Ninon se faz apresentar ao jovem Aruet (Voltaire), então com cerca de 13 anos, a quem lega 2.000 libras para que ele pudesse comprar seus livros. Ela nasceu dia 10 de novembro de 1620 e faleceu dia 17 de outubro de 1705. Depois de sua morte não temos notícias de nenhum milagre feito por ela. Mas oras bolas! O amor nada tem a ver com milagres.


PS: Neste dia, fazer o mesmo penteado em honra dela.

24 de novembro de 2010

Noventa e seis anos de Take Five


Há 96 anos nascia o saxofonista Paul Desmond, autor de "Take 5", simplesmente minha música preferida de todo o universo, com certeza. Até hoje agradeço ao André de Leones por ter me aplicado isso num antigo blog que ele tinha.


23 de novembro de 2010

O problema é que a naturalidade e a realidade se tornam inimigas, sem se saber por quê; existe uma hora em que o natural soa espantosamente falso, em que a realidade dos vinte anos se acotovela com a realidade dos quarenta e em cada cotovelo há uma gilete nos cortando o saco. Descubro novos mundos simultâneos e distantes, cada vez suspeito mais que estar de acordo é a pior das ilusões. Por que esta sede de ubiquidade, por que esta luta contra o tempo?



Capítulo 21

21 dias com Rimbaud

Lua em gêmeos, noite bem dormida em dias, e o encontro com Rimbaud antes do meio dia. Eu sei, é improvável que fosse este demônio desencarnado. Ele não poderia aparecer antes da segunda parte do dia. No entanto, ele não dorme, não descansa e me aparece como um fantasma na tela do computador através de uma reportagem de Kelly de Souza. Agora, passemos das palavras ao fato:

Rimbaud chegou junto com o telefonema de Paulinha, nossa embaixadora na França de Sarkozy. Interrompi a leitura de um para falar com outro. Além de me contar que computadores de jornalistas estavam “misteriosamente” sendo roubados de forma sistemática, ela também, ao relatar uma história de amor de um casal inusitado, me contou dos punks que anda conhecendo por lá. Disse que eles vivem em caminhões super equipados de toda sorte de substâncias e elementos para uma rotina hedonista com horas vagas para manifestações de toda espécie. Primeiro, pensei em forças sinistras atuando enquanto um bando de macacos corria atrás do próprio rabo em busca da ideologia perdida. Mas depois vi que era muito mais que isso. Me pareceu que o espírito de Rimbaud ainda está diluído nestes jovens franceses descritos por Paulinha.

Eu só havia lido Rimbaud há muitos anos por causa de um pedantismo adolescente fundamentado numa citação na música do Legião Urbana: Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud. E, agora, depois de ler um resumo da sua biografia, percebo como ele antecipou há dois séculos atrás a experiência dessa primeira década vivenciada por nós. O melhor adjetivo que a reportagem traz é realmente a palavra “indestrutível”.

O que mais me impressionou nos detalhes de sua biografia, que eu desconhecia (logo, eu não sabia nada de Rimbaud), foi a sua precocidade, traduzida por mim como uma ferocidade para vida. Uma espécie de urgência, fome, própria de um espírito selvagem com uma dose incomum, para época, de individualismo.

Rimbaud era um ótimo aluno! Tirava as melhores notas e dominava com fluência as línguas antigas. Segundo a lenda, quando ele tinha quinze anos, o diretor do seu colégio decidiu escolhê-lo para representar a escola num concurso acadêmico. O tema era composto de uma única palavra: “Jugurta” (rei da Numídia, antiga Argélia). Às nove horas da manhã, o diretor encontra o poeta na sala de aula, absorto, sem que nenhuma palavra ainda escrita. Rimbaud olhou o diretor e reclamou: “Estou com fome”. Um lanche foi trazido até ele e, tão logo ele terminou de comer escreveu seus versos latinos, que, claro, venceram o concurso.

Meio a Guerra Franco-Prussiana, um ano depois, ele foge para Paris à pé. Nessa trajetória, ele escreve os poemas “Au Cabaret Vert” e “Ma Boheme” e envia a Paul Verlaine, dez anos mais velho, o poema “O Barco Ébrio”. A resposta é imediata. Um convite de Verlaine para Rimbaud ir a Paris. E o resultado bombástico: os dois se apaixonaram e construíram uma relação cercada de escândalos e excessos. Era a época em que nossa Paris existia no mundo real e era governada pela imaginação de grandes homens que viriam dar a reviravolta no mundo das artes. Era o lugar onde tudo acontecia. Em seus cafés, teatros, esquinas, tudo dependia do que pensavam os intelectuais que por lá circulavam, que vinham de todos os cantos, falavam todas as línguas, que habitavam uma cidade sempre pronta a receber o inédito, o ousado, o maldito.



Com a benção deste cenário, os dois poetas se entregaram a todo tipo de prova com bebidas e drogas, como absinto, haxixe e ópio, inspirados na ideia de que a criação poética era refém da experiência dolorosa e devastadora, e que só poderia ser obtida através da liturgia do caos, da vivência frenética e alucinatória.

Mas isso tudo não duraria muito. Aos dezenove anos, Rimbaud para de escrever. Coloca a mochila nas costas novamente e viaja por vários países até começar a investir no contrabando de armas. Aos trinta e sete anos já estava liquidado, apodrecido, com dores alucinantes, um cadáver insepulto. Seu corpo exalava os horrores de uma vida sem compaixão com o físico. Morreu em 10 de novembro de 1891 e a obra dele só foi difundida em 1912.

Rimbaud influenciou gerações de autores, compositores, cineastas e artistas. Na lista de Kelly: André Bretón, Henry Miller, Anaïs Nin, William S. Burroughs, Pier Paolo Pasolini, Alejandro De Michele, Hugo Pratt, Pablo Picasso, Mário Cesariny de Vasconcelos, Klaus Kinski, Patti Smith, Luis Alberto Spinetta, Eduardo Sanguinetti, Jorge Luis Borges, Vladimir Nabokov, Bruce Chatwin, Jim Morrison, Cevladé, Mohamed, Bob Dylan, Paulo Leminski, Kurt Cobain e muitos outros.

“Rimbaud era para mim como um poeta demoníaco, um “poeta maldito”, e o gostava de ser… A que estranha danação ele não arrastaria todos os outros? Rimbaud, com seu individualismo exacerbado, sua insubmissão. O selvagem Rimbaud. Ele assusta… mesmo preso! Rimbaud continua um mestre admirável na arte de escrever, um inventor de formas cuja originalidade não foi esgotada por nenhum de seus inúmeros imitadores”. André Gide.

Bom, depois disso tudo, só me resta decretar mais uma data cívica da Paris Imaginária: os 21 dias com Rimbaud, que vai de 20 de outubro (data do seu nascimento) a 10 de novembro. Como já passou, fica para o ano que vem. Daí, penso em fazer uma reunião com Paulinha para ela me detalhar mais essa curtição de punk de caminhão. Vou tirar daí as ideias e depois a gente vê no que dá. Por enquanto, fica só programado ler a biografia dele sugerida no site.



20 de novembro de 2010

Na pélvis (no capítulo 21)


Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente hão de ver meu corpo atual,
voar em pedaços
e se juntar sob dez mil aspectos diversos.
Um novo corpo no qual nunca mais poderão esquecer.

Eu, Antonin Artaud,
sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre morto.

Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.

Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu espírito.
Não concebo uma obra de arte dissociada da vida.

Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.

19 de novembro de 2010

Na memória (no capítulo 21)

"Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio a bandeira da imaginação" - André Breton

 

Leia o manifesto.

18 de novembro de 2010

Nas mãos (no capítulo 21)

René Crevel (1900-1935) é o mais esquecido dos surrealistas. Cinco adjetivos: 
Tuberculoso, passou temporadas em sanatórios.
Homossexual, esteve sempre rodeado de gente homofóbica (a mãe católica, o pontífice Breton, os comunistas).
Libertário, embarcou iludido no sovietismo francês.  
Inquieto, andou pelas ban- das da psicanálise, mas continuava a sentir-se "domador e fera" de si mesmo.
Tumultuoso e frágil, escreveu em 1925 que "A inteligência incita ao suicídio". Cumpriria essa vocação dez anos depois.

Citação:


"Esta noite sonhei - não é literatura - esta noite sonhei que não estava a sonhar. E afirmo que os pesadelos, mesmo para os mais assombrados de nós, apenas são ausências de pesadelo. A girar no vazio, o nosso espírito não poderia fazer-se à ideia de nunca mais girar. E na família dos nossos pensamentos, dos nossos amores, dos nossos ódios, é perpétua a história daquele homem que comia os filhos numa época de fome, para lhes preservar um pai".





17 de novembro de 2010

Nota histórica

Os franceses acabaram elegendo as tribos gaulesas como o marco zero da sua história, já que estas habitavam o atual território da França antes que os romanos ocupassem a Gália, no século I. Esta herança gaulesa ocupa o lugar central no imaginário francês. Considerados celtas, hoje não se sabe como eles denominavam a si mesmos. Tal denominação é dada pelas civilizações que com eles interagiram. A origem da palavra é imprecisa, mas supõe-se que seja indo-européia, kel-kol, que significa "colonizador", ou keleto, que significa rápido, pois eles se deslocavam à cavalo em suas incursões guerreiras sendo por isso também destacados por sua velocidade. Outra hipótese linguística seria a grega, keltoi ou galatai, invasor, que dá origem ao gentílico "gálata", para depois a palavra latina gallus, em francês gaulois, ou seja, gaulês. Os gauleses eram festivos, briguentos, supersticiosos e grandes bebedores de cerveja.
Eles acabaram sendo dominados pelos romanos nos séculos seguintes. No entanto, a cultura gaulesa não desapareceu completamente, deixando muitas contribuições que acabaram sendo incorporadas pelos romanos e pelos povos que os sucederam. A cerveja não foi uma delas. Como todos sabem, a cultura do vinho na França é uma herança romana. Um exemplo mais preciso é o sabanote. Embora os sírios já tivessem inventado o sabonete séculos antes, sua função era restrita ao uso medicinal. Já os gauleses o utilizavam tal qual o conhecemos hoje, para higiene pessoal.
Com a queda do Império Romano no Ocidente, a Gália Romana viria a ser invadida e ocupada pelos francos, um povo de origem germânica. De origem indo-europeu, frank significava livre. Como de fato eles eram em relação ao povo romano. Desde já os francos nutriam uma rivalidade com os alamanos que deram origem aos alemães.
Napoleão III erigiu uma estátua de sete metros de Vercingetorix em 1865. O escultor foi Millet de Aimé, no local suposto de Alesia, local onde teria ocorrido a batalha em que Julio Cesar venceu definitivamente as tropas gaulesas dando início a romanização da Gália.

Basta olhar na parede e minha alegria num instante se refaz

Pois temos o sorriso engarrafado.
Já vem pronto e tabelado, é somente requentar e usar...

14 de novembro de 2010

Mondrian e Maria Helena Vieira da Silva

"Você está procurando alguma coisa e não sabe o que é. Eu também. E também não sei o que é. Mas são duas coisas diferentes. Aquilo de que vocês falavam outro dia...


sim, você é um Mondrian e eu sou uma Vieira da Silva".



13 de novembro de 2010

11 de novembro de 2010

Cruz de Malta

Oliveira bebeu mais um mate. Tinha de cuidar da erva. Em Paris, custava quinhentos francos o quilo nas farmácias e tratava-se de uma erva perfeitamente asquerosa que a drogaria da estação Saint-Lazare vendia como vistosa qualificação de “mate sauvage cueilli par lês indiens”, diurética, antibiótica, e emoliente. Por sorte, um advogado de Rosário – que, a propósito, era seu irmão – tinha-lhe enviado cinco quilos de Cruz de Malta, mas já restava muito pouco. “Se a erva acabar, estou frito”, pensou oliveira. “O meu único diálogo verdadeiro é com esta bebida verde”. Estudava o comportamento extraordinário do mate, a respiração da erva fragrantemente levantada pela água e que, com a sucção, desce até pousar sobre si mesma, perdido já todo brilho e todo o perfume a não ser que um pouco de água a estimule de novo, autêntico pulmão argentino de reserva para as pessoas solitárias e tristes”.




Capítulo 19

10 de novembro de 2010

Em Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, e também em Metamorfoses, de Ovídio, encontramos a lendária e bela Io.

As variantes deste mito trazem-na como sacerdotisa da Hera argiva e pertencente a raça real de Argos. Outras versões a tratam como uma ninfa, mas Io não é associada a nenhum elemento natural como as ninfas costumam ser.

Sua beleza despertou a paixão de Zeus, que, para cortejá-la, cobriu o mundo com um manto de nuvens escuras, escondendo seus atos da visão de Hera. A estratégia falhou e a deusa, desconfiada, desceu do monte Olimpo para averiguar o que estava acontecendo. Numa vã tentativa de iludir sua esposa ciumenta, o deus transformou sua amante em uma belíssima novilha branca. Intrigada pelo interesse do marido no animal e maravilhada com a beleza do mesmo, Hera exigiu a novilha para si e a pôs sob a guarda do gigante Argos Panoptes. Argos quando dormia mantinha abertos cinqüenta de seus cem olhos.

Zeus encarregou Hermes de libertar sua amada. Para tanto, o mensageiro dos deuses, usando a flauta de Pã, pôs para dormir os olhos despertos de Argos, enquanto os outros cinqüenta dormiam um sono natural, e cortou sua cabeça. Hera recolheu os olhos de seu servo e os pôs na cauda do pavão, animal consagrado a ela.

Io estava livre do cativeiro, mas não dos tormentos de Hera. O fantasma de Argos continuava a persegui-la. Io perambulou de Micenas para Eubéia. Atravessou a Ilíria e subiu o monte Hemos, na Trácia. O mar cujas praias percorreu recebeu o nome de Mar Iônio. O Estreito de Bósforo, que liga o Mar de Mármara ao Mar Negro, cujo significado é Passagem da Vaca, foi batizado assim após Io tê-lo cruzado a nado. Atravessou a Cítia e ao chegar ao monte Cáucaso, encontrou Prometeu acorrentado em uma rocha. O titã disse que, ao alcançar o Egito, ela seria restaurada a sua forma humana por Zeus e teria um filho. A criança seria a primeira de uma linhagem que culminaria com Hércules, que acabaria por libertar o próprio Prometeu.

Io fatalmente chegou às margens do Nilo. Cansada de tanto sofrimento, implorou a Zeus por um fim. O deus comovido foi falar com Hera e ambos restauram Io a sua forma humana. Ela teve um filho, Épafo, que foi roubado pelos Curetes sob ordens de Hera. Io recuperou o menino e reinou sobre o Egito, sob nome de Ísis e casada com Telégono. Sua coroa tinha dois pequenos chifres de ouro, lembranças de sua transformação.

Uma pequena lenda paralela diz que as lágrimas da novilha Io caíram sobre as asas de um inseto, marcando-as eternamente e dando origem à bela borboleta Inachis io.

Io é também uma das luas do planeta Júpiter, nomeado assim a partir da contraparte romana de Zeus.


9 de novembro de 2010

Johnny Dodds / New Orleans Wanderers - Perdido Street Blues




"(...)embora a pureza viesse a ser, então, um produto inevitável da simplificação, voando um bispo, voando as torres, saltando o cavalo, caindo os peões e, no meio do tabuleiro, imensos como leões de antracito, os reis permaneciam imóveis, ladeados pelo mais límpido e final e puro dos exércitos, ao amanhecer as lanças fatais se quebrarão e a sorte seria conhecida, haveria paz. Pureza, como a do coito entre os jacarés, não a pureza de oh maria mãe de todos com os pés sujos; a pureza do teto de ardósia com pombos que, naturalmente, cagam na cabeça das senhoras frenéticas de cólera e de punhados de rabanetes".

Capítulo 18

31 de outubro de 2010

“Aprendamos duas coisas. Que nesta altura dos acontecimentos, um soco na mesa, violento e sonoro, é mais importante do que sabermos da validade dos juízos sintéticos a priori. E que, do ponto de vista de um pensar brasileiro, Noel Rosa tem mais a nos ensinar do que o senhor Immanuel Kant, uma vez que a filosofia, como o samba, não se aprende no colégio”.

Roberto Gomes em Crítica da Razão Tupiniquim.

27 de outubro de 2010

“Não é fácil ser cronópio. Sei disso por razões profundas, por ter tentado sê-lo ao longo da vida; conheço os fracassos, as desistências e as traições. Ser fama ou esperança é simples, basta deixar-se levar e a vida faz o resto. Ser cronópio é contrapelo, contraluz, contrarromance, contradança, contratudo, contrabaixo, contrafagote, contra e recontra cada dia contra cada coisa que os outros aceitam e que tem força de lei. (...) Cronópios de todos os países, uni-vos! Contra os burros, os dogmáticos, os sinistros, os marrons, os agachados, os implacáveis, os micróbios. Cronópios! À frente, marchem!”

Um cronópio no México, de Júlio Cortázar. – Papéis Inesperados




8 de outubro de 2010

Ok, eu me rendo. Sexta-feira.


 (...) nascera a única música universal do século, algo que aproximava mais homens, mais e melhor do que o esperanto, a Unesco ou as companhias de aviação, uma música bastante primitiva para alcançar a universalidade e bastante boa para poder fazer a sua própria história com cisões, renúncias e heresias, com seu charleston, o seu black bottom, o seu shimmy, o seu foxtrot, o seu stomp, os seus blues, para admitir as classificações e etiquetas, o estilo isto ou aquilo, (...)
Fui!

27 de setembro de 2010

Do Livro de Manuel

Lendo Papeis Inesperados, do Cortázar descobri essa pérola de história (real*):

“(...) Escute, menina, escute com algo mais que essas orelhas bonitas, você também é as bonecas de Bellmer, tentação e possibilidade da metamorfose pelo amor, da verdade por um prazer capaz de violar redutos, de negar limites à cidade do homem ocidental, um caminho, menina, a rota dos seus seios rosados, as sombras das suas pestanas, o calor dessa boca que chupa o meu pau e morde docemente o sal entre os dedos dos seus pés, o cheiro do seu cabelo (...)”. J.C.

As iniciais H.L.M. da empresa parisiense de construção imobiliária são, aos seus olhos, uma saudação, um grande sorriso que lhe enviam. A megalomania, tão agradável, com o sentimento delicioso de já estar no centro de todos os acontecimentos, surge-lhe como um estado de eleição.

Este excerto, que pertence ao livro autobiográfico “O Homem-Jasmim”, foi escrito pela artista surrealista alemã Unica Zürn. O sentimento expresso nele pela autora, essa sensação “de estar no centro de todos os acontecimentos”, corresponde à vivência que Klaus Conrad descreveu, no seu livro clássico “A esquizofrenia incipiente”, como sendo a experiência nuclear da denominada fase apofánica da esquizofrenia, a anastrofé, “a vivência que tem o doente esquizofrênico de que tudo gira a sua volta”. O texto de Única Zürn é pródigo em transcrições de conceitos psicopatológicos da esquizofrenia, no entanto, o que torna este livro um testemunho único, é o talento que a autora mostra para transformar a vivência do adoecer psicótico num texto poético de rara beleza.

Única Zürn nasceu em Berlim, durante a Primeira Grande Guerra, no bairro residencial de Grunewald, no seio de uma família abastada. A partir de 1931, e ao longo da era nazi, trabalha na UFA, a maior produtora cinematográfica alemã na altura, primeiro como auxiliar de escritório e depois como argumentista de filmes de publicidade.

Em 1942, casa com Erich Laupenmühlen, com quem teve dois filhos (Katrin e Christian). Após a separação, em 1949, perde a custódia dos filhos, e passa a viver como jornalista e escritora, freqüentando os círculos artísticos de Berlim. Para financiar a sua subsistência, escreveu cerca de 140 contos para a imprensa diária berlinesa e diversas peças radiofônicas.


Após a Segunda Guerra Mundial, em 1953, conhece o pintor e fotógrafo surrealista Hans Bellmer (1902-1975), artista inclassificável, famoso como criador de fetiches surrealistas, graças a sua famosa série de bonecas (Poupées). Apaixona-se por ele e, nesse mesmo ano, o casal parte para Paris.

Na cidade das luzes, incitada por Bellmer, Única Zürn começa a desenhar e a escrever anagramas, uma espécie de jogo de palavras, que resulta do rearranjo das letras de uma palavra ou frase para produzir outras palavras. O anagrama foi uma das técnicas usadas pelos surrealistas – como a “escrita automática” ou os “cadáveres esquisitos” – para tentar reduzir ao mínimo o efeito das instâncias de controle e repressão do subconsciente. Se as frases representam o mundo organizado e lógico, então a busca de outras frases numa frase significa a busca de outros mundos atrás do mundo do dia-a-dia. A escrita anagramática, assim como a cabala, tornaram-se para Zürn quase uma obsessão, com as quais se afastava cada vez mais do mundo real. Ela própria descreveu este comportamento. “Prazer inesgotável o de procurar uma frase dentro doutra frase. A concentração e o grande silêncio que este trabalho exige dão-lhe a oportunidade de poder isolar-se completamente do mundo que a rodeia e até de esquecer a realidade – é isso o que ela quer.”

Por intermédio de Bellmer, Zürn conhece os artistas do círculo surrealista parisiense: Man Ray, Marcel Duchamp, Max Ernst, Hans Arp e Henri Michaux. O primeiro deixou-nos dela um famoso retrato fotográfico em escorço. O encontro com Michaux, por quem se diz que esteve apaixonada, será decisivo para a sua obra posterior: ele tornar-se-á, na forma duma relação imaginada e sob as iniciais H.M., no protagonista do livro O Homem-Jasmim.

A relação com Bellmer tinha, sem dúvida, muito na linha do transgressor mito surrealista do amour fou, um componente sadomasoquista, que ela teve a coragem de reconhecer: “O meu destino é ser uma vítima eterna”, escreveu. Bellmer era um grande perverso que, sublimou, como outros artistas, as suas pulsões sádicas através da arte, mas também foi o seu companheiro, o seu principal apoio artístico e emocional e o fiel defensor dos seus direitos quando Única, já muito desequilibrada, demonstrava não ter capacidade para tratar com os marchantes. Única Zürn tinha por ele sentimentos que oscilavam entre a admiração e a submissão. Talvez ela se tenha vingado dele no fim, quando em 19 de Outubro de 1970, se atirou pela janela do apartamento de Bellmer em Paris. Ele, paralisado desde há alguns anos, nada pôde fazer para evitar o desenlace fatal, e não teve outra escolha senão contemplar impotente o gesto dela desde a sua cadeira de rodas. Bellmer morreu em 1974 e foi enterrado ao lado de Única no cemitério do Père-Lachaise, sob uma campa com uma inscrição onde parece ecoar a história de amor além da morte d´O Monte dos Vendavais, romance tão caro para os surrealistas: “o meu amor seguir-te-á até a Eternidade”.


Fonte: http://www.saude-mental.net/pdf/vol11_rev2_leituras.pdf

26 de setembro de 2010

Satchmo, enormíssimo cronópio

"Parece que o passarinho mandão, mais conhecido por Deus, soprou no flanco do primeiro homem para animá-lo e dar-lhe espírito. Se em vez do passarinho tivesse estado lá Louis para soprar, o homem teria saído muito melhor".

concerto de Louis Armstrong em Paris, 9 de novembro de 1952, por Cortázar via Suplemento Literário de Minas Gerais



Capítulo [13]

25 de setembro de 2010

Essa eu não tenho...

The Yas Yas Girl [Merline Johnson]:


Well it's blues in my house, from the roof to the ground,
And it's blues everywhere since muy [sic] good man left town.
Blues in my mail-box cause I cain't get no mail,
Says blues in my bread-box 'cause my bread got stale.
Blues in my meal-barrel and there's blues upon my shelf
And there's blues in my bed, 'cause I'm sleepin' by myself.


O jogo da Amarelinha Capítulo [106]



Font: http://mysite.verizon.net/ckearin/cortazarjazz.html

23 de setembro de 2010

Era Uruguaio, embora não pareça.

(...)A metamorfose nunca apareceu a meus olhos senão como elevada e magnânima ressonância de uma felicidade perfeita, que esperava há muito. Finalmente, havia chegado, o dia em que fui porco! Exercitava meus dentes sobre a casca das árvores; meu focinho, eu o contemplava deliciado. Não restava a menor parcela de divindade; soube elevar minha alma até a excessiva altura dessa volúpia inefável. Ouvi-me, pois, e não vos ruborizeis, inesgotáveis caricaturas do belo, que levais a sério o ridículo relincho da vossa alma, soberanamente desprezível;(...) - Lautréamont. Os Cantos de Maldoror.  pg 203 a 212
"Ah, Lautréamont", dizia a Maga, recordando o nome. "Sim, creio que o conhecem muitíssimo."
- Era Uruguaio, embora não pareça.
- Não parece, não - confirmou a Maga, reabilitando-se.

Capítulo [11]

Sim, crocodilos enormes...

...trombones na margem dos rios, blues arrastando-se...


Kansas City Six, ler capítulo [11], Jogo da Amarelinha

Todas as músicas de Mrs. Holiday

Até Leonard, o cachorro de Billie, tinha um olhar melancólico.

Para quem tem a pretensão de ter todas as músicas cantadas por Billie Holiday, este site é um mapa! Achei quando procurava pela falange Kansas City Six: Lester Young, Dickie Wells, Joe Bushkin, Bill Coleman, John Simons e Joe Jones.

Aqui, Godard é santo padroeiro de piratas (Evoé!)

Godard defende um condenado por pirataria na internet


James Climent é fotógrafo e enfrenta uma multa de 20 mil euros por violar direitos autorais musicais.

Um francês condenado por roubo de direitos autorais ao baixar milhares de músicas na internet encontrou um padrinho improvável: Jean-Luc Godard, o famoso diretor de cinema de 79 anos, que fez filmes como Acossado e Alphaville. Ele defende James Climent, um fotógrafo que enfrenta uma multa de 20 mil euros por violar direitos autorais musicais.

Climent, que mora em Barjac, uma pitoresca cidade antiga de artistas e fazendeiros de produtos orgânicos na região do Gard, no sul da França, quer levar seu caso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, em Estrasburgo. A mais alta corte francesa rejeitou sua última apelação, em junho, ficando ao lado das agências que recolhem royalties musicais e que denunciaram Climent cinco anos atrás.

O fotógrafo disse que Godard doou 1 mil euros esse mês para seu fundo, dos 5 mil euros necessários para pagar advogados e outros custos necessários para levar seu caso ao tribunal europeu.

Enquanto as opiniões de Godard sobre propriedade intelectual são amplamente compartilhadas na periferia libertária da internet, pode parecer surpreendente que venham de um diretor que, segundo a lei francesa, detém o controle editorial sobre seu trabalho e obtém vantagem financeira disso.

No entanto, Godard, um dos pioneiros da Nouvelle Vague francesa na década de 1960, cujos filmes alfinetam as convenções da sociedade burguesa, claramente ainda se deleita em provocar o establishment, mesmo que isso possa lhe custar dinheiro.


Godard não foi encontrado, mas um sócio, que insistiu em se manter anônimo porque não tinha autorização do diretor para falar, confirmou a doação. Godard, disse o sócio, queria fazer um "gesto simbólico" para chamar a atenção sobre a situação de Climent.
Além do dinheiro, Climent disse que recebeu um bilhete manuscrito e a foto de um modelo de veleiro e a despedida, "Surcouf, Jean-Luc Godard"– referindo-se a Robert Surcouf, um pirata dos tempos da Revolução Francesa.

A íntegra da reportagem aqui.

21 de setembro de 2010


Ontem a vizinha violinista não estudou às 18h, mas por volta das 22h. Um pernilongo aproveitou para disfarçar-se na música dela e chupar o meu sangue. Digamos que a música dela me fez sangrar...

O julgamento de valores é necessário no xadrez



Como o xadrez é também uma experiência empírica, pode-se estabelecer o valor intrínseco de cada peça. Este saber é fundamental, pois permite ao jogador fazer um julgamento mais justo durante uma partida. Frits Van Seters oferece duas equivalências para facilitar este raciocínio:

Bispo=cavalo=3 peões
Dama=2 torres=3 peças leves

No entanto, o valor intrínseco das peças é infinitamente variável e instável segundo o desenvolvimento da partida e as características inerentes a cada posição. Assim como a vida, nada é tão simples e facilmente resumido para o julgamento. Mas o conhecimento empírico ajuda a lidar melhor com as circunstâncias.


19 de setembro de 2010

Sèvres-Baylone

Tem que clicar na imagem pra percorrer a mandala


Paris é um centro, entende, uma mandala que é preciso percorrer sem dialética, um labirinto onde as fórmulas pragmáticas só servem para se perder. Então, uma breve cogitação que seja comorespirar em Paris, deixando que Paris também entre em nós, neuma e não logos.

Cherche-midi


Bravos soldados têm a inteligencia como melhor arma



Nos soldados, na hierarquia mais baixa de um reino, está a capacidade de superação. Apesar de só poder avançar sendo-lhe proibido o retorno e, ainda por cima, apenas uma casa por vez verticalmente, quando o peão atinge a primeira fileira do adversário, ele deve ser trocado no mesmo lance por uma dama, uma torre, um bispo, ou um cavalo da mesma cor, de acordo com a posição que ele alcançou.

Outra situação vantajosa é o prise en passant. É certo que o peão só toma em diagonal e que podem avançar duas casas quando em sua casa de partida. No entanto, se o peão adversário ultrapassou a metade do tabuleiro e se situa à distância de cavalo do seu peão na casa de partida em uma coluna contígua, quando você avançar duas casas ficando na mesma altura do preto, este pode tomar seu peão branco em diagonal como se você estivesse uma casa abaixo. E vice-versa, claro.

Encontrei este vídeo na internet que explica melhor:


 


Os oito peões são as oito Virtudes da Mãe Devi-Kundalini, que são: Compreensão, Vontade, Verbo, Reto pensar, Reto sentir, Reta maneira de ganhar a vida, que haja Paz e que haja Amor. Também representa o Arcano oito do Tarô: a Justiça, também representada por Atenas, a deusa da sabedoria e artes.

18 de setembro de 2010

Os gumes de se ruminar

A vizinha, por volta das 18h,começa a estudar violino. Ela está num estágio em que não há dúvidas de se tratar de um violino. Seu método consiste em repetir obsessivamente uma melodia como se quisesse dominar o movimento. Como se a repetição lhe garantisse, no quando da apresentação ou conclusão do aprendizado de uma sinfonia ou música, não haver surpresas consigo mesma. Como se um erro não escapasse à ordem de algum compositor que aprendeu a falar por meio do silencio. Ela começa e eu também fico quieta me repetindo o quanto foi bom ter agido como agi naquele tempo. Hoje ela praticou por 3h. Eu, quieta acompanhei-a e transbordei de melancolia. Quando ela terminou, desci, comprei duas latinhas de cerveja e fui ler para me convencer que não há nada na minha vida a ser melhorado.

Ontem à noite

17 de setembro de 2010

Single: como uma personagem de uma propaganda de sabonete.

Acho que camas de casais não são tão fundamentais. Todo aquele espaço para dois onde se deveria conjugar o dois em um. Tenho pânico de encontrar um parceiro que ache que o meu corpo ou o de qualquer outra pessoa lhe causa desconforto. Estes seres neuróticos e assépticos cobertos de politicamente correto e cartilhas de status quo. Por outro lado, explorar novas posições exige espaço. Dependendo com quem se esteja, é possível que alguém te esfregue por todo o limite do colchão. Inclusive, expandindo-se com partes do corpo no chão. É a liberdade do deitar e rolar. E, em caso de casamento, trata-se do espaço perfeito para conjugar leituras, ou a distância ótima numa briga para que esta não passe de bobagem... Essas coisicas da vida conjugal.

Pensei em ter cama de casal nessa minha solteirice crônica. Eu já sou uma mulher adulta, não estou num quarto na casa da minha mãe e... Simplesmente, não é de bom tom convidar um homem para dividir uma cama de solteiro com você. Eu mesma já me peguei com certos preconceitos a esse respeito. Mas o espaço que eu dispunha era pouco e eu prefiro mil vezes um bom guarda-roupa. Inclusive, se tivesse uma cama de casal não poderia ter meu criado mudo. Eu o adoro! Então comecei a pensar nos benefícios da cama de solteiro.

E a minha é uma delícia, tem o tamanho perfeito para mim, os livros, cadernos e amantes eventuais. Pensei nos últimos, todos dividiram uma cama de solteiro. Nunca pensei em termos de sorte ou azar, mas lembrei da gostosura de me fundir aos peitos gordinhos e quentinhos à procura de um ronronar. Ou do cobertor humano como se eu fosse um filhote de marsupial. Na pior hipótese a promíscua posição bunda com bunda. Mas nada que diminua a hora dos tais segredos de liquidificador. Quando se pode formar com o outro corpo um desenho de um coração na visão de uma aranha no teto. Até usei isso num conto em que dois adolescentes namoravam no quarto.

Pois é. Cama de solteiro é imaturo. Mas eu não me importo. Se o mundo fosse feito de dois tipos de pessoas, as que preferem manga verde à madura, eu diria que eu faria parte do grupo das que gostam da verde. Eu já falei que amo os começos?

16 de setembro de 2010

Punch and Judy


(...) encontravam-se muitas vezes em pleno labirinto de ruas, acabavam quase sempre por se encontrar e ficavam rindo como loucos, certos de um poder que os enriquecia. Oliveira se sentia fascinado pelos absurdos da Maga, pelo seu tranqüilo desprezo pelos cálculos mais elementares. Aquilo que para ele tinha sido análise de probabilidades, deliberação inspirada ou simplesmente confiança na rabdomancia ambulatória, passava a ser para ela, um autentico fatalismo. (...) andavam desse modo, Punch and Judy, atraindo-se e rejeitando-se, como é necessário quando não se quer que o amor termine em cromo ou em romance sem palavras. Mas o amor, essa palavra...


O jogo da amarelinha, [6]




*Punch & Judy é um casal clássico do teatro britânico de fantoches. A apresentação é tradicionalmente conduzida por um único manipulador, referido desde a era Vitoriana como ‘o professor’. Em 2006, em uma iniciativa cultural multimilionária lançada pelo governo inglês, Punch & Judy foram oficialmente incluídos entre os dez "ícones da Inglaterra", ao lado, entre outros, dos ônibus vermelhos londrinos e do peixe com batatas fritas. A façanha da dupla de bonecos, presente na Inglaterra desde o século 17, reforça a importância mundial do teatro de formas animadas.



**Fonte da imagem. http://www.ellenrixford.com/htmls/MechanicalPuppets.html



13 de setembro de 2010

Para começar a semana


Melpomene foi uma das nove musas da mitologia grega. Filha de Zeus, rei dos deuses, deus do céu e do trovão, com Mnemósine, uma das Titânides, deusa que personificava a Memória. Era a musa da tragédia, apesar de seu canto alegre. É representada com uma máscara trágica e usando botas de couro (coturnos), que marca também os atores trágicos. Empunhava a maçã de Hércules e era o oposto de Tália, a festiva, musa da comédia.
Tem uma borboleta que chama Heliconius melpomene. Este nome num bichinho que representa tão bem a efemeridade da vida e suas constantes transformações caiu muito bem.

Fonte: Wikipédia

Assim, uma pessoa pode rir e pensar que não está falando a sério, mas sim, está falando a sério, pois o riso, por si só, já cavou mais túneis úteis do que todas as lágrimas da terra, embora os pedantes engravatados não gostem de pensar que Melpomene é mais fecunda que Queen Mab*.

Júlio Cortázar, O Jogo da Amarelinha [71]

*Queen Mab é uma fada que aparece num discurso em Romeu e Julieta. Ela tem estatura bem pequena e conduz sua biga do nariz até o cérebro das pessoas para dar luz aos seus sonhos.

12 de setembro de 2010

Traiçoeiros e nada bondosos



Os bispos, nas cortes medievais, eram os que estavam mais próximos ao Rei. No Tarô de Marselha ele é o Papa, o arcano do ato da bênção, da iniciação, da demonstração, do ensino. O Pontífice representa a forma ativa da inteligência humana, que traz principalmente as soluções lógicas. Significa também os pensamentos inspirados por um nível mais alto de consciência. Seu mito é o de Quíron, rei dos centauros, autoridade espiritual e mestre de todos os jovens da mitologia.

Além de representar a parte do ser humano que se eleva às questões do espírito, ele também é uma espécie de curandeiro ferido. Por meio da própria dor, pode avaliar e compreender a dor dos outros. A mim, ele, no jogo de xadrez, mais parece aqueles padres e bispos corruptos de histórias e peças como o dos Três Mosqueteiros. Parecem que comem sempre pelas beiradas e o computador sempre me arma belas armadilhas com eles. Por isso não encontrei relação com esta “aparência bondosa” do signo. Ele está mais para descobrir suas fraquezas e, logo em seguida, acabar com você.

Seu movimento propicia muito isso. Desloca-se à vontade nas diagonais, sendo as colunas e fileiras interditas a seu movimento. Porém, somente pode se movimentar nas casas da mesma cor que a da sua casa. O que não é tão mal. Colocado no centro do tabuleiro, o bispo controla treze casas.

11 de setembro de 2010

Tell é mais leve que a Maga?

"(...)Sem ênfase, com uma liberdade de gata a que eu sempre lhe fora agradecido, Tell sabia juntar-se com beleza a qualquer viagem de trabalho e a qualquer hotel para me proporcionar esse encontro de Paris com tudo que Paris era então para mim (com tudo o que Paris não era então para mim), aquele interregno neutro em que se podia viver e beber e fazer amor como se se gozasse de uma dispensa, sem faltar uma fé jurada, eu que não havia jurado nenhuma fé. Duas ou três semanas numa terra de ninguém, trabalhando para o vento e brincando de se amar (...)"

Cortázar, 62 Modelo para Armar

Amor banguela

9 de setembro de 2010

O segredo de Minos


Quando me aventurei a aprender jogar xadrez sozinha com o computador, a primeira descoberta que fiz – sempre pelo erro – foi que as Torres são exatamente torres no que elas têm de funções como: proteger e posição privilegiada de ataque. E só perdem em valor para as damas por não poderem se mover na diagonal. No mais, ela pode se deslocar à vontade ao longo das colunas e fileiras, o que dá uma folga e flexibilidade muito grande ao jogo. Para se ter idéia, qualquer que seja sua posição, a torre domina 14 casas.

Acho muito interessante a imagem das Torres. Elas simbolizam o estado de alerta percepção e de alerta novidade. Os cimentos da torre na época medieval eram de pedra e quase todas estavam feitas deste material, símbolo resplandecente de la Energia Sexual. Quando a gente tira a Torre num jogo de Tarô, ela representa a casa do Deus. Há também uma referência à história bíblica da Torre de Babel, em que Deus destrói uma torre construída pelo homem para chegar ao céu. E no Tarô mitológico grego refere-se ao labirinto do Minotauro. Aqui, a Torre tem a imagem psicológica da fachada socialmente aceitável que adaptamos para esconder nossa fera interior. Numa consulta, significa que as coisas que não se encaixam serão separadas definitivamente por Deus ou pelo Destino. Ou que, ao descobrir a própria natureza, ninguém pode mais fingir aos olhos do mundo.

Não sei até que ponto eu me deixo levar por isso. O que sei é que com as torres eu tenho a sensação do bote, do insight inesperado, da surpresa que armei bem na base do “quase sem querer”. Mas, como ainda estou no início das minhas especulações, termino por aqui. Preciso praticar mais e pegar intimidade. O que posso dizer, por hora, com certreza, é que adoro estas peças como se fosse uma Rapunzel que há muito se acostumou com seu cárcere. E, agora, descobriu uma nova forma de deixá-lo mais dinâmico.

...ou tolerando Porgy and Bess com bifes grelhados e pepinos descascados...

Aqui folhas secas no chão são postais



Os plátanos são árvores do gênero Platanus da família Platanaceae, as quais são nativas da Eurásia e América do Norte e também típicas dos climas subtropicais e temperados. No geral são árvores de interesse ornamental, podendo atingir mais de 30 metros de altura. Possuem folhas lobadas semelhantes às do bordo, que ficam avermelhadas no outono antes de caírem no inverno, mas diferenciam-se dos bordos pelas flores reunidas em inflorescências globosas em contraste com os amentos presentes nos bôrdos, e também pela ausência de resina nos plátanos, entre outras diferenças estruturais menores.

Muitas vezes, crê-se que a folha do plátano é a que está simbolizada na bandeira canadense, no entanto, a folha ilustrada é a de bordo vermelho; a confusão ocorre devido a semelhança física entre elas. As duas árvores pertencem a gêneros diferentes: plátano (Platanus) e bordo (Acer).

Fonte: Wikipédia

8 de setembro de 2010

Aqui só andamos de bicicleta ou de pé calçado





(Por Aderbal Freire-Filho, Logo, do Globo)

Há cem anos morria, em Paris, o escritor francês Alfred Jarry, criador dos ciclos de Ubu Rei, personagem inspirado num professor de física que encarnava “todo o grotesco que há no mundo”. Mais tarde, em “Gestos e opiniões do doutor Faustroll”, lançou as bases da patafísica, “ciência das soluções imaginárias”. Precursor do teatro do absurdo (que combatia, pelo nonsense, a incomunicabilidade humana), Jarry é aqui homenageado por um dos cânones do movimento, o espanhol Fernando Arrabal, 75, autor da celebrada peça “O arquiteto e o imperador da Assíria”, que conviveu com Ionesco e Beckett e é discípulo ferrenho da patafísica. Vagamente inspirado por uma visita que fez recentemente ao Rio, Arrabal usa a bicicleta — veículo-mor da patalinguagem (junto com o absinto e o revólver) — para compor, em francês, especialmente para a página Logo, uma série de “notas jaculatórias” (a escrita dos patafísicos), publicada a seguir em versão bilíngüe.

A patafísica é a ciência daquilo que se sobrepõe à metafísica, seja nela mesma, seja fora dela, situando-se tão longe dela quanto ela da física. Exemplo: epifenômeno sendo frequentemente o acidente, a patafísica será sobretudo a ciência particular, embora se diga que não existe ciência senão do geral. Ela estudará as leis que regem as exceções e explicará o universo suplementar a este; ou, menos ambiciosamente, descreverá um universo que se pode ver e que talvez se deva ver em lugar do tradicional, as leis que acreditamos descobrir do universo tradicional sendo também correlações de exceções, embora mais frequentes, e, todo caso, de fatos acidentais que, reduzindos-e a exceções pouco excepcionais, não têm sequer atrativo da singularidade. Definição: a patafísica é a ciência das soluções imaginárias, que dá simbolicamente aos esboços as propriedades dos objetos descritos por sua virtualidade.

Alfred Jarry

Gestes et opinions du docteur Faustroll, Pataphysicien

“(...) A Vida é o Carnaval do Ser, e a ‘Patafisica será então uma ciência da Vida e não do Ser, uma ciência que se baseia no inútil movimento da lógica do absurdo. Tudo se resume à fórmula: O Ser não existe, só o Devir É.(...)”

Instrumento para afugentar moscas, autor desconhecido, 1850

- A Maga e eu falávamos de patafísica até nos cansarmos, já que a ela também acontecia (e o nosso encontro era isso mesmo, e muitas outras coisas tão obscuras quanto o fósforo) cair inesperadamente nas exceções, (...)

Horácio Oliveira

"(...) que ao nosso lado esteja a mesma mulher, o mesmo relógio e que o romance aberto em cima da mesa comece a andar outra vez na bicicleta dos seus óculos".

Cortázar, Histórias de Cronópios e Famas

Bailarina

7 de setembro de 2010

A mosca


Vou ter que matar-te de novo.
Já te matei tantas vezes, em Casablanca, em Lima, em Cristiânia,
em Montparnasse, numa fazenda na província de Lobos,
no bordel, na cozinha, em cima de um pente,
no escritório, neste travesseiro
vou ter que matar-te de novo,
eu, com a minha única vida.

Cortázar, Papéis Inesperados

O elemento mais poderoso

“(…) num mundo onde você se movia como um cavalo de xadrez que se movesse como uma torre que se movesse como um bispo (…)”.
O Jogo da Amarelinha [1]


A Dama é o princípio universal da vida, o princípio divino feminino, o Rei desdobrado em Mulher, o Eterno Amor que flui e reflui. Ela é a outra metade de nosso Ser. Ela é a Sacerdotisa de Tebas. Reinou no Egito, como Vestal de Delfos, sob o nome de Pitonisa. Durante muito tempo na história da humanidade, o feminino reinou. Era A Deusa a maior divindade de todas, representada pela lua e a metamorfose de suas fases.

Assim, a liberdade de movimentos da Dama num tabuleiro de xadrez é formidável. Uma vez que os valores fundamentais do xadrez são o tempo, ou seja, a rapidez para realizar os planos, e o espaço, o domínio do maior número de efeitos, a dama é a peça que mais permite isso. Ela possui todos os atributos de movimento das outras peças. Desde que não esteja bloqueada, sua flexibilidade a faz poderosa.

De nada ela tem de sexo frágil no jogo de xadrez. Ela pode se movimentar quantas casas quiser, tanto ao longo das fileiras como das colunas diagonais. Para se ter idéia, colocada no centro do tabuleiro (e4), a Dama controla 27 casas.

Na vida, o homem enfrenta inúmeros problemas. Cada pessoa necessita saber como os resolver. O que o xadrez ensina é que toda solução está no próprio problema. Mas para tirar proveito deste fato é preciso que haja o equilíbrio perfeito entre a Mente, a Emoção e o Centro Motor. E quem melhor pode proporcionar isso é a Dama.