- Já chega, já chega! Horácio nunca me perdoará, embora não esteja apaixonado por ela. O caso é para rir: uma bonequinha de nada, feita com cera de vela de Natal, uma cera verde muito bonita, recordo perfeitamente...
Imagem: Ana Cláudia
“...o sorriso continua sendo a melhor vitamina pra impulsionar as inteligências e os facões. Uma revolução que não salve a alegria por baixo ou por cima de todos os seus valores essenciais está destinada ao fracasso, à lenta paródia do que não chegou a ser; e que não se confunda a frivolidade, que não vai além das superfícies, com a alegria, essa conciliação e essa harmonia do homem livre com seu âmbito, sua sociedade, seu mundo”.
O problema é que a naturalidade e a realidade se tornam inimigas, sem se saber por quê; existe uma hora em que o natural soa espantosamente falso, em que a realidade dos vinte anos se acotovela com a realidade dos quarenta e em cada cotovelo há uma gilete nos cortando o saco. Descubro novos mundos simultâneos e distantes, cada vez suspeito mais que estar de acordo é a pior das ilusões. Por que esta sede de ubiquidade, por que esta luta contra o tempo?
Godard não foi encontrado, mas um sócio, que insistiu em se manter anônimo porque não tinha autorização do diretor para falar, confirmou a doação. Godard, disse o sócio, queria fazer um "gesto simbólico" para chamar a atenção sobre a situação de Climent.Além do dinheiro, Climent disse que recebeu um bilhete manuscrito e a foto de um modelo de veleiro e a despedida, "Surcouf, Jean-Luc Godard"– referindo-se a Robert Surcouf, um pirata dos tempos da Revolução Francesa.
Paris é um centro, entende, uma mandala que é preciso percorrer sem dialética, um labirinto onde as fórmulas pragmáticas só servem para se perder. Então, uma breve cogitação que seja comorespirar em Paris, deixando que Paris também entre em nós, neuma e não logos.
(...) encontravam-se muitas vezes em pleno labirinto de ruas, acabavam quase sempre por se encontrar e ficavam rindo como loucos, certos de um poder que os enriquecia. Oliveira se sentia fascinado pelos absurdos da Maga, pelo seu tranqüilo desprezo pelos cálculos mais elementares. Aquilo que para ele tinha sido análise de probabilidades, deliberação inspirada ou simplesmente confiança na rabdomancia ambulatória, passava a ser para ela, um autentico fatalismo. (...) andavam desse modo, Punch and Judy, atraindo-se e rejeitando-se, como é necessário quando não se quer que o amor termine em cromo ou em romance sem palavras. Mas o amor, essa palavra...
Assim, uma pessoa pode rir e pensar que não está falando a sério, mas sim, está falando a sério, pois o riso, por si só, já cavou mais túneis úteis do que todas as lágrimas da terra, embora os pedantes engravatados não gostem de pensar que Melpomene é mais fecunda que Queen Mab*.
"(...)Sem ênfase, com uma liberdade de gata a que eu sempre lhe fora agradecido, Tell sabia juntar-se com beleza a qualquer viagem de trabalho e a qualquer hotel para me proporcionar esse encontro de Paris com tudo que Paris era então para mim (com tudo o que Paris não era então para mim), aquele interregno neutro em que se podia viver e beber e fazer amor como se se gozasse de uma dispensa, sem faltar uma fé jurada, eu que não havia jurado nenhuma fé. Duas ou três semanas numa terra de ninguém, trabalhando para o vento e brincando de se amar (...)"
“(…) num mundo onde você se movia como um cavalo de xadrez que se movesse como uma torre que se movesse como um bispo (…)”.