5 de setembro de 2010

Primeira lição

Primeira lição, primeiro erro: tentar vencer a lógica pela intuição onde há uma técnica que implica algumas idéias de combinação e estratégia, e um espírito voltado para lógica. Jogar com o computador é uma ótima forma de aprender isso. Pois contra uma pessoa, este plano inicial pode até funcionar sobre o viés do erro humano. Mas minhas partidas com a máquina provam que, definitivamente, o xadrez não é um jogo de sorte! O que a história do xadrez ensina, no entanto, é que se a intuição não é uma condição imprescindível, é, pelo menos, o diferencial dos grandes jogadores enquanto etapa de um processo lógico que não exclui a criatividade.

Durante o século XVIII, um músico de 25 anos, Philidor escreveu A Análise do Jogo de Xadrez (1749) e deu o tom ao jogo durante um século. E não foram grandes pensadores amantes do xadrez, como Jean-Jacques Rousseau e Voltaire, que marcaram esta história em especial. Apesar do primeiro campeão ser o matemático alemão Adolphe Andersen (1851), anos depois ele foi desbancado por um misterioso lunático americano de apenas vinte anos de idade, Paul Morphy.

Perspicaz, o filósofo, teórico e prático Steinitz misturou as idéias de Andersen e Morphy para fundar o culto do ataque a qualquer preço, buscando obstinadamente combinações brilhantes e desprezando o jogo de posições. Contudo, o jovem russo Tchigorine não aceitava as idéias de Steinitz como dogmas e o venceu, em 1889, em Havana. Cinco anos depois, um discípulo do xadrez de combate, Lasker, de 28 anos, devolveu a esta estratégia seus tempos de glória e status de “lei imutável da vitória”.

Mas se assim o fosse o xadrez não poderia ser também, entre tantas definições, considerado uma arte. E é por isso que, depois da Primeira Guerra Mundial, uma escola neo-romântica vai defender idéias novas. Nelas, se procura dominar as casas centrais ao invés de sua ocupação pelos peões e também se desenvolve a arte da mobilização. Um grande nome desta escola é o do cubano José Raoul Capablanca. Em 1921, ele viria desbancar Lasker.

Seis anos depois, um russo volta a ocupar os holofotes do mundo do xadrez. Alekhine, encarregado de redigir o livro de um torneio em Nova York, tirou partido das idéias modernas, percebeu a importância das aberturas e descobriu as qualidades e defeitos dos seus concorrentes. Principalmente Capablanca, do qual tirou o título de número um deixando a seguinte frase na história: Capablanca é certamente um jogador que pensa mais rápido do que eu; em compensação, meus pensamentos são mais profundos.

A grande cúpula do xadrez se vê, após a segunda guerra mundial, ameaçada com o desaparecimento de Capablanca e Lasker. Pretendentes não faltavam, mas com a morte do campeão mundial, Alekhine, em 1946, a FIDE – Féderation Internationale Des Échecs – coloca fim à guerra de sucessões e institui a competição oficial. O torneio foi disputado metade em Haia, metade em Moscou e o vencedor, no caso o russo Botvinik, seria obrigado a defender seu título a cada três anos.

Esta vitória leva o Estado Soviético a apoiar fortemente a prática do xadrez e, inspirando-se em nomes como Tchigorine e Alekhine, os melhores teóricos e práticos fundaram a Escola Soviética. Nela, o traço mais marcante seria a reação aos conceitos pessimistas de Lasker, Capablanca e outros.

Assim, se por um lado Lasker sentencia: O xadrez não tem, por muito mais tempo, como nos esconder seus mistérios. A hora fatal deste velho jogo está próxima. Sob a forma atual, ele está fadado a uma morte rápida pela frequência de partidas nulas. Do outro, Alekhine preconiza: Os reformistas afirmam que o progresso da teoria conduz à morte do xadrez e propõem insuflar vida em suas regras, reformando-as. Mas o que exprime esta afirmação? Acima de tudo, o desprezo pela intuição, pela imaginação, e por todos os outros elementos que elevam o xadrez à categoria de arte.



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