5 de setembro de 2010

Semana do neversário: sábado, véspera

Eu amo cidades movimentadas! Gosto das pessoas, do nervosismo das cores, da solidão dos olhares. Fez um dia lindo, cheio de calor, muito vento e pouca umidade. Eu, depois de muito tempo, me senti feliz em Juiz de Fora. Tive uma sensação estranha de que tudo que parecia tão grande em outro tempo, agora, se mostrava pequeno. Os espaços entre as coisas estavam apertados, embora eu tenha notado alguns trajetos mais longos. E estas percepções ilógicas me deram um distanciamento perfeito para apreciação do sábado. Nem o prédio fatídico com seu décimo quinto andar pareceu tão grande. Passei por ele sem nenhuma vertigem. Não ter cumplicidade com esta cidade deixou um gostinho de futuro bom na boca. Acho que tinha o gosto do diamante negro que ganhei de presente da Marcele.

Faz alguns dias que falo demais da minha mãe. Senti sua falta, muita saudade e não é raro eu me pegar com vontade de simplesmente lhe encher de beijinhos. Por isso optei vir para casa no feriado e passar meu neversário com ela. Por mim, eu ia na quinta, mas precisava também comemorar com as amigas. E só não fui na sexta porque a ressaca não deixou. Hoje, dispensei até a companhia da Mari, Vovó e Iara para almoçar. Eu estava louca para chegar à casa da mamãe.

Conversamos tanto que chegou uma hora que ela se cansou de mim. Não está acostumada com companhia longa. Ainda mais minha! Pediu para se retirar no fim da tarde e foi travar seu diálogo silencioso com as plantas. Eu aproveitei para procurar uma relíquia que já tinha me proposto encontrar: o livro de Frits Van Seters, um Manual Prático de Xadrez (Je Joue Mieux aux échecs: une initiation claire et rapide).

Uma coisa que não mencionei sobre o Xadrez aqui é que me lembro do meu pai numa fase de encantamento com o jogo. Apaixonado com matemática e charadas como ele era, imagino que ele teve essa fase como eu. Há muito eu pego este livro, folheio, vejo suas anotações de jogadas e piro em imaginar sua obsessão. Um pouco melancólica também desejo que ele estivesse vivo para me ensinar todos os seus segredos. Se bem que eu acho que ele jamais me mostraria de mão beijada. Me faria desafios impiedosos e deixaria bem claro que eu teria que merecer aqueles segredos. Então esta é a novidade. Resolvi deixar um pouco a intuição de lado e tentar através desse livro ouvir algum conselho do meu pai.

Mamãe desceu do seu encontro com as plantas, disse que está chovendo cinzas das queimadas. Fala da limpeza da cobertura do apartamento tal qual ela fosse um Sísifo. Já tomamos nossa dose cavalar de café e agora nos preparamos para nos distanciar de novo até a manhã do dia seguinte; quando inventaremos uma nova informalidade para comemorar os trinta e cinco anos da obra-prima dela: eu. rs

Nenhum comentário:

Postar um comentário